segunda-feira, 26 de outubro de 2009

“Agradecimento ao Poeta”.

(Texto dedicado a Daniel Viana, possuidor de um insigne prisma artístico).

Numa noite quente, um de meus anjos especulou: por que será que essas pessoas fedem? Ou cheiram perfume forte? Ruim? Minutos depois mencionou uma simplória lembrança que a emociona.
Habitamos uma sociedade mundinho que insiste em converter nosso glorioso planeta em uma aldeia não desenvolvida. Pessoas emitem sons e cheiros por todos os lados, criando “barreiras” para que os olhares amplos não os alcancem e notem seus vazios. Suas insensibilidades envolvem-nas como uma casca e não apanhariam aprofundamentos, aromas suaves. Há de ser brusco para ultrapassar. Quando se conhece uma pessoa, o corpo transparece e a alma mostra-se na pele.
Sem o amargo não se faculta o nobre da vida. Minhas experiências não moldularam-me o desmerecido e invejado produto apontado. Fútil. O corpo não se constitui apenas de matéria. Por instantes de glória senti-me apossado da coroa. Entretanto, minha ótica alcançou o quão pequeno fui e posso (preciso) evoluir. Algo me mostrou que a paixão pela arte não é indiferente. A espécie sobreviveria sem, mas por pouco tempo, a tensão polarizaria sua alto destruição. Vendo Deus como energia, concluí, talvez de má vontade, que seres místicos estão distantes, mas não deixam de nos honrar com seus conhecimentos. Foi há pouco a notável aparição de um desses, que não envergonho-me, encontrei por meio da procura. Tive de ver que também cuida de si, mantém-se um bem aventurado, pronto a transmitir sua essência para vários. E uniu-se a uma de minhas diversas classificações para anjos.
Não sinto-me ético ao confessar-lhes: meus atuais mestres são falsos profetas. Muito me ensinam dia após dia. Mas funcionam como “dementadores”. Seus trabalhos são como alimentar um animal no intuito de devorá-lo. Voltemos à coloração de minha estrela.
Tudo expliquei pelo diferencial da primeira estrela que já lançou seu vôo – permanecendo humano – da pequena sizígia que conheci.
Meu viver é um espectro poema. Este meu refinado poeta não me é particular ou íntimo. Não hei de acusá-lo: comprometer seu nome dizendo-lhes – mentindo – que me orientou. Apenas iluminou-me bons caminhos. O bastante. Ajudou-me a escrever meus versos, tê-los na prática, com sinestesia. Embora creio-me faminto por distintos pensadores por todo tempo que me falta em vida, esse – que em sua ciência não elitizou-se apesar das magníficas obras – será sempre singular. Peço perdão aos insubstituíveis amigos, cito este único por me beneficiar sem conhecer-me. Acredito que o turbilhão não o afastou do que é. Seu profissionalismo e bom coração salvaram-me quando minha juventude adoeceu. Mais do que merecera, o que precisava. Momentâneo, mas só alcanço gratidão por alguém absorto, que não me parece real além de meu subconsciente. Mas sei que está por aí, renovando.
Desisti da busca de meu óbito espiritual, do torpor. Se o tivesse feito, regressaria, vivo a fase das dramatizações. Mas por que não saborear esses dias que não voltarão? Obrigado por restituir a fé que guardo em minhas emoções.

(Em especial, peço perdão as amadas: Gláucia Bruscato (minha mãe), Thaís Giovanetti e Andréa Rabello, por não mencioná-las diretamente em minha reconstituição. É certo: mal existiria a não ser por tê-las).

"Corre Cotia"

Por debaixo da cabana um lampião e uma serpente
Por cima dessa tal cabana a constelação
Oh, luar contente!
Bendita menina inocente que brinca segura na escuridão.

Corre pra ciranda
Ela quer se divertir
Os adultos compreendem; seu coração não envelheceu
E quem não daria o mundo para vê-la sorrir?

(Dedico a Bianca Dallaqua, eterna criança que tenho com invulnerável paixão).

“E, no entanto é preciso cantar
Mais que nunca é preciso cantar
É preciso cantar e alegrar a cidade”

Marcha De Quarta-feira De Cinzas
(Vinicius De Moraes / Carlos Lyra)