sexta-feira, 2 de julho de 2010

É tempo de transição.

Se não fosse tua ausência eu não seria ao menos eu.
Tua passagem fora breve, montado em seu cavalo de Tróia; cujo interior eu quis habitar como soldado imperador de teu reino.

Fora você a responsabilidade de meu reino anencéfalo.

Meus órgãos que despedacei num ritual pra alimentar-te - e temo reconhecer, recusaste a refeição. Não quero mais minha alma. Descartável como uma folha de outono, que não importa o quanto acreditei ser bela é brevemente seca e morta.

Se hoje venta com aroma de canela é feliz como um orgasmo ser humano.
Tão sujo e vil quanto a vida é real à vida, àquele que ama; que espera amor.

Se um pão seco alimenta, deixa-me ao menos sentir fome. O âmago pede a consagração da droga. Comerei terra o quanto precisar até habitá-la. Nela terei o amor que fecunda a vida. O amor que mata tanto que durante a ceia que se inicia passa a decompor a vida.

A podridão dos dentes estalando quentes entre as bocas que se engalfinham e se mordem humilhadas pela desnutrição e desidratação que sangra sem permitir salivar ou transpiração.

Um dia você me presenteou com um hálito tão quente de vida que só quem tem fome é capaz de produzir. Quero viver de seca e morrer de pobreza. A satisfação que não engana.

Se é covarde, seremos então. Compostos por um material feio e dolorido como um dente cariado.

E se minha inflamação te ama eu sou o habitat perfeito a qualquer vírus.

Não somos os malditos que perdem a pele negra para o vírus hereditário que invade o amor e mortifica aos poucos deixando a vida sem vida à vida. Eles são vitimados por nós que somos vida através da morte.

Teu corpo é oco como uma virgem sem ovário mas tua alma é bem mais rica que minha alma e meu corpo que um dia fora teu e virgem. Embora não tenha me tocado, embora não tenha me amado; embora tenha ido embora. A ti consagrei minha primeira noite. O inexiste agora tornara-se fluído concreto e flagela o que se diz do amor.

De repente se senta como um animal que perde a cria ao pior inimigo. Há somente a humilhação. Acende um fósforo e inflama o corpo dominado pelo álcool que jamais ingerira por ser vida fraca demais a isso. Em meio as chamas, enfim, vive o que queria dizer sobre o amor.
Só quem geme, sofre; no pranto até esgotar-se prova a paixão.
Se eu não tivesse sido por ti jamais poderia ser por alguém.

Tão áspero e delicado.

Lá se fora meu verão.

O grito é mais mudo que o próprio silêncio e o silêncio sim é manifestação. Missa que não magoa.

Havia sido estuprado pela vida que traçara. Devorara seu tumor.
A maior ofensa que entristece a verdadeira riqueza.

Fraco demais à felicidade.

Não temo compaixão que é composta de vergonha.

Se a mudança alterasse. Mas não há recursos.

Viver é ter dinheiro e ter dinheiro é pra quem tem vocação.

Se fosse você no meu lugar não sei quem seria. Mas eu no meu, sou apenas a estratégia que se humilha pedindo teu perdão.
E eu me vi feliz na escuridão de meu mistério interior.

Congelo-me no mar escuro e denso.
Não beijo mais tua boca. Trago apenas teu cigarro. Ali sim há essência do que te quis.

Às vezes precisamos aprender a amar o que nos faz bem.