sábado, 26 de dezembro de 2009

O silencio das grades.


Uma breve fagulha de dor minha fronte sibilou e o que não era vendaval ou brisa, mas vento tocava-me enquanto concluía que nem por um segundo seu perfil me saíra da memória. Jardim limpo ou pântano gelado conforme a espécime de planta da flor angustiante que te agrada, eu cultivaria não medindo danos.
O pranto desconhecido chama-me atenção e vejo que já de antemão objetivos nossos não se assemelham. Capto que não passaríamos de bronzeadas estatuetas belas luxuriosas que os próximos tempos haveriam de ver e em conjunto confortar-se-iam; assim também a nós: “quem sabe este romance que contraria o catolicismo fora a mais estimulante lenda onde verdadeiramente se encontra o enigma divino de viver?”
Contemplando, todos magníficos, isto que nunca existiu. Não conhecendo a abstinência carregada de uma calmaria tediosa que as diferenças repousaram em nós esclarecendo que nada escolheu acontecer.
O cinzeiro que você carrega jamais esteve na superfície de meus móveis.


quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Comerciantes de devaneios.

(Dedico a mim, por não obcecar temer o novo)

Meu conto em sépia. Temo que a seca me cesse o claro. Nada aprimorado homem sem emoção tratar assuntos emocionais.
Mantinham-me num aceso pedestal. O luzidio em falsa glória me queimava e mastigava suprindo confusões angustiantes hipnotizadoras de primários, fazendo-os zumbis, dedicados platônicos. Semelhantes a mim: partidário burocrata dos ocos. Fui modelo; bola da vez.
Após muito, me vi indisposto para tais ancoras mórbidas, e os deixei.
Não apaguei minha colocação. Exibo o que habitei. Vago; indiferente, não me cativa a quantia temporária que assim manter-se há.
Fino ou grotesco, pigmentei o brilho que me provém. Fui infértil semente fértil por extensa temporada. Inalei palcos; desvairados aplausos, notabilizei-me. Amigos poucos me acompanharam no trópico fosco. Os mais, já fatigados, alçaram caminhar. Bom feito. Verão-me ainda, purificado, sobretudo.
Hei de por meu hábido à prova. Nada celestial cintilar em meio à trupe de iludidos tristes. Não tanto engrandeci; o espaço que fora pequeno em demasia.
O mesquinho; cego; arrogante círculo vicioso dos priscos senhores me comoveu em doar ilimitada vida às peças, extinguindo o néctar de me viver.
Sofri a boca amarrada em papilas encharcadas de desgosto de infecto cão sem significância.
Vi outros também arrasados; jogados à lama; amargamente devaneados. Escravos opcionais. E eu; bibelô em cristal sobre o tablado trajava encobertas túnicas lisas e brancas. Cuidados especiais. Não menos escravizado. Não menos por opção.
Esforcei-me pelas montagens nos semáforos das cidades que passamos, sob humilhantes raios solares. Os via, desinteressados, acenando dos automóveis. Transpus madrugadas prosperando personagens, na dimensão que alcançava. Procedimento de bloqueada execução em local e horário propícios. Não evitavam pejorativos em nossas mentes contorcidas exaustas. Empenhei potencial e ao redor o cheiro forte de tinta herdara-me dores na garganta, tosse e alergia, enfraquecendo minha voz. Por honra, deixava de lado mesmo atividades escolares para recuperá-la a tempo da atuação.
Respeitar perecera em ângulos todos. Não autotróficos, aceitamos mais de dez horas sem autorização para refeição escassa do corpo e da alma. Ocultavam superações nossas diante jornais. Limpávamos seus objetos pessoais enquanto vadiavam, danificavam tais objetos próprios a nós (presentes de nossos pais) e criticavam a boa educação que nos dão. Aconselhavam-nos mentir para eles. Privávamo-nos de momentos em família e amigos, mas não podíamos faltar em trabalhar pelos seus. Meus amigos mais integrantes de mim perderam-me de vista.
Alimentavam friamente sonhos europeus de crianças fragilizadas por feridas dos lares. Olhavam-nos com inveja, quando cientes de não suficientes, estudávamos. Penamos irreais quilos extras.
Sujeitavam-nos a risos e subestimações publicas, face artística e humana machucaram. Indaguei emoções mínimas nas criaturas Elisabetanas Shakespearianas, abdiquei real por fictício e ainda assim vedaram-me o sonhar.
Cálculos modificados. Planos forjados. Um gole da acida taça enganosa: não províamos o berço cultural; eles eram nossa chance do dom; habitaríamos mais alta poeira social.
Proibiam adentrar mercado. Experimentei o doce calor do glamour enquanto ouvia os sons das maquinas do cassino que jogava com vidas cada vez que lucravam seglas que desconheceríamos. Agendaram-me tentadores papeis para anos, decênios... Desfiz projetos, vínculos, promessas. Não conservo rancor. Não há alegria longe do tom carnavalesco. E em absoluto nada espero por mim, deles. Ambos devedores eternos de inexistentes dívidas já pagas.
Galinha dos ovos de ouro é um termo muito dos deselegantes. Continuo amando os personagens. Concederam-me excelências e lhes servi manifestações existências alem dos livros.
Pouco a pouco me vem à resoluta equação. Não converti cegonhas em corcundas. Decisão estável. Notifico ao manifestar-se o mínimo maturar: já não mais venho do maldito peso que a cegonha em sua visão obscura de um mundo pequeno carrega.

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Dossiê Outubro.

(Dedico a Thaís Giovanetti e Renata Quintieri, que antecederam a mim assumindo liderança no campo de guerra).

Uma breve lembrança de meu antigo e solitário quarto, naquele bairro tão afastado daquela cidade absurdamente morta. A sensação maravilhosamente vazia que ele me trazia.
Ausência de sabor no desenxabido.
Em minha descortês posição adolescente, sofri tanto os vendavais da inversão. Manifestava-se a dor que eu logo ironizava amenizando-a, até sem querer, para alcançar um contraste que por fim não alcancei. Ouvir ruídos noturnos fez sentir-me vivo. Atento. Não mais vagava pela rotina “inabstrata” dos últimos meses. Contudo, nenhum sentimento. Meu corpo agia só. Houve quando entre a dor e o nada escolhi o nada, desta vez o nada me escolhera. Onde desaparecera a alma onde o sangue estranhamente outrora pulsou? (...) Toda falta respeitosa sequer tocava-me.
Não sabia por quê cuidar-me nem como executá-lo. Usando a razão, julgava propício muito desejar. Comparecia ali a confirmação de que nada mesmo era carnal nem absolutamente sentimental. Tudo um prático raciocínio sem perder seu mecanismo. Metas programadas por chips. Sem gosto.
Procurava pelo célebre torpor e não havia estímulos a repelir. Meu corpo não mais sentia a geada espiritual que me movia, o gosto pela dor se fora. A sensação da neblina umedecendo meus trajes colegiais de primeiro ano, o meu eterno outono, nunca voltaria. Não era mais o herói. A dor que sentia em meu peito toda noite, que pesava sobre minha ossatura e me concentrara em minha história que aos poucos me abandonava, também deixou-me. Não havia a culpa nem o querer mudar de situação. Sentir intensificara-se tanto sem resultar que decidiu migrar de mim.
Nada de amor por esses dias. Não passava de um projeto em uma fábrica mundo. Meu coração sequer tentava passar-me algo. Tudo calculado. Tantos pensamentos me enlouqueceriam se pudesse sentir minha sanidade. Minha postura romântica havia devorado-me. Mas onde estariam os efeitos?
Dentro de mim havia um vazio incapaz de ecoar.
É como se eu desenvolvesse uma psicopatia sem ambições maldosas. Meu comportamento fazia com que me desentendesse com os mais amados, nada mais odioso.
Pesar. Codificar humanos em positivos e negativos.
Não encontrava o sono. Comer fez-se anti-higiênico. Inocentes detalhes “desprazerizaram-se.” A forte e não dependente de tabus religiosos crença num Deus supremo, o amor fraternal que permitia envolver-me, foi-se parecendo de vez. Passava horas corroendo-me e não capacitava-me prosear com alguém o que pensara.
Eu estava doente. Sem vaidades harmoniosas. Psicologicamente desfeito em um farelo que empoeirava os azulejos brancos do chão de meu quarto num cinza que tonalizava ainda mais minhas engrenagens mortas.
“Desesperançoso” e triste.
Hora de reagir.
Degustar o medo me levará a inovação.
Edificar uma nova vida. A antiga perdeu sua perspectiva junto a todos os sonhos, sons, formas e pessoas que amei. Algumas continuariam em mim de certa maneira e nos veríamos de tempos em tempos, quem sabe?
A idéia é fazer. Buscar valerá se for por escolha, não por alimentar mentiras capitalísticas de indivíduos fracos e vergonhosamente fracassados. O intento é prosperar em virtudes. Devo deixar os que são de vero opacos* (*Acolho expressão de exemplares damas).
Juntar-me aos bravos.
Recolhi-me só, iniciando procura pela cor que uma vez existiu. Deparei comigo, me ouvi e aconselhei-me com transparência. Refiz-me.
Novo, me preparo. Retomo a luta. Não viver tornou-se perante a mim um imperdoável ato criminoso, dentre os mais indignos.
Se a sintonia do gosto pela arte trouxe-me até aqui, creio que sou para ser. Deus, Deus! Como é belo o fazer-se belo por si próprio.

(Confesso um neologismo barato, falta de parágrafos e uma febre de ignorância na reforma ortográfica)

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

“Agradecimento ao Poeta”.

(Texto dedicado a Daniel Viana, possuidor de um insigne prisma artístico).

Numa noite quente, um de meus anjos especulou: por que será que essas pessoas fedem? Ou cheiram perfume forte? Ruim? Minutos depois mencionou uma simplória lembrança que a emociona.
Habitamos uma sociedade mundinho que insiste em converter nosso glorioso planeta em uma aldeia não desenvolvida. Pessoas emitem sons e cheiros por todos os lados, criando “barreiras” para que os olhares amplos não os alcancem e notem seus vazios. Suas insensibilidades envolvem-nas como uma casca e não apanhariam aprofundamentos, aromas suaves. Há de ser brusco para ultrapassar. Quando se conhece uma pessoa, o corpo transparece e a alma mostra-se na pele.
Sem o amargo não se faculta o nobre da vida. Minhas experiências não moldularam-me o desmerecido e invejado produto apontado. Fútil. O corpo não se constitui apenas de matéria. Por instantes de glória senti-me apossado da coroa. Entretanto, minha ótica alcançou o quão pequeno fui e posso (preciso) evoluir. Algo me mostrou que a paixão pela arte não é indiferente. A espécie sobreviveria sem, mas por pouco tempo, a tensão polarizaria sua alto destruição. Vendo Deus como energia, concluí, talvez de má vontade, que seres místicos estão distantes, mas não deixam de nos honrar com seus conhecimentos. Foi há pouco a notável aparição de um desses, que não envergonho-me, encontrei por meio da procura. Tive de ver que também cuida de si, mantém-se um bem aventurado, pronto a transmitir sua essência para vários. E uniu-se a uma de minhas diversas classificações para anjos.
Não sinto-me ético ao confessar-lhes: meus atuais mestres são falsos profetas. Muito me ensinam dia após dia. Mas funcionam como “dementadores”. Seus trabalhos são como alimentar um animal no intuito de devorá-lo. Voltemos à coloração de minha estrela.
Tudo expliquei pelo diferencial da primeira estrela que já lançou seu vôo – permanecendo humano – da pequena sizígia que conheci.
Meu viver é um espectro poema. Este meu refinado poeta não me é particular ou íntimo. Não hei de acusá-lo: comprometer seu nome dizendo-lhes – mentindo – que me orientou. Apenas iluminou-me bons caminhos. O bastante. Ajudou-me a escrever meus versos, tê-los na prática, com sinestesia. Embora creio-me faminto por distintos pensadores por todo tempo que me falta em vida, esse – que em sua ciência não elitizou-se apesar das magníficas obras – será sempre singular. Peço perdão aos insubstituíveis amigos, cito este único por me beneficiar sem conhecer-me. Acredito que o turbilhão não o afastou do que é. Seu profissionalismo e bom coração salvaram-me quando minha juventude adoeceu. Mais do que merecera, o que precisava. Momentâneo, mas só alcanço gratidão por alguém absorto, que não me parece real além de meu subconsciente. Mas sei que está por aí, renovando.
Desisti da busca de meu óbito espiritual, do torpor. Se o tivesse feito, regressaria, vivo a fase das dramatizações. Mas por que não saborear esses dias que não voltarão? Obrigado por restituir a fé que guardo em minhas emoções.

(Em especial, peço perdão as amadas: Gláucia Bruscato (minha mãe), Thaís Giovanetti e Andréa Rabello, por não mencioná-las diretamente em minha reconstituição. É certo: mal existiria a não ser por tê-las).

"Corre Cotia"

Por debaixo da cabana um lampião e uma serpente
Por cima dessa tal cabana a constelação
Oh, luar contente!
Bendita menina inocente que brinca segura na escuridão.

Corre pra ciranda
Ela quer se divertir
Os adultos compreendem; seu coração não envelheceu
E quem não daria o mundo para vê-la sorrir?

(Dedico a Bianca Dallaqua, eterna criança que tenho com invulnerável paixão).

“E, no entanto é preciso cantar
Mais que nunca é preciso cantar
É preciso cantar e alegrar a cidade”

Marcha De Quarta-feira De Cinzas
(Vinicius De Moraes / Carlos Lyra)