quarta-feira, 29 de junho de 2011

Estou tentando quase não falar, e: aconselhe-te, aconselho-me, ao mesmo.

Que eu me encaixe no silêncio. Que eu grite até o nunca – pois a felicidade é o nunca. Que o amor tenha mais fome de mim do que eu dele. Que eu não saiba ganhar somente pedindo. Que eu tenha a coragem de não ser bom. Que eu grite todo o meu ódio. E exponha minha inveja como uma obra de arte. Que eu até mesmo mate através dos outros: mais do que venho matando através de mim mesmo.
Que eu não viva a mentira dos outros. Não finja que gosto como as pessoas fingem gostar, não finja acreditar no gosto como elas fingem acreditar.
Eu estou cansado, desacreditado, e sem esperança pra uma vida com sabor. As promessas que preguei estão sendo humilhadas pelo tempo, enquanto à minha volta tudo se move imóvel. Uma grande órbita viciosa, sem alteração nenhuma na composição dos seres que dançam uma alegria artificial.
Que o mundo me peça qualquer coisa que não seja não viver, ou que eu mesmo me peça outra coisa. Preciso de muita coragem para sair do mar calado onde deslizo à superfície, antes que meu corpo finalmente se afunde e encontre o nada que: pode ser salvação e sem fim.
Que eu saiba conviver com a decepção, sem querer encobri-la para me poupar de mais uma.
Que meus dedos passem a tocar o que é sólido por onde eu tocava coisas inexistentes e sem a menor probabilidade de surgimento.
Que meu coração se encha da paz que vem Daquele que fez a Terra e o sistema solar.
Que eu tenha a lembrança de uma cantiga da infância, e que ela me agrade mesmo que as outras crianças da roda sejam hoje adultos que eu já não conheço.
Que meu peito se infle de gratidão pelo pão que eu como enquanto poderia estar em meio ao lixo caçando o que um abutre come.
Que a gentileza me ensine pra que eu não precise aprender através do sofrimento.
Que eu saiba aceitar que estou só, e perante a mim, contemple um universo capaz de existir sozinho, e minha alma agradeça a graça de conhecer os dois seres que me geraram, assim como geraram meus irmãos, que geraremos seres ou sensações. Mesmo que todos nós sejamos infelizes através do fio que conduz isso tudo.
Que eu aproveite o mundo com o meu poder que vem da morte, e através do silêncio eu refaça minha alma dor após dor, encontrando o êxtase de aceitar, e através dele ser o que a felicidade é.
Que eu mostre aos outros que meu Criador não exige de mim bondade, nem mesmo pureza ou a perfeição. E que: meu maior exigente sou eu. Me condeno por pecar sem saber que o pecado é nada mais que, uma criação que garante a igualdade de pensamentos. Porque tivemos medo de saber quem nós somos e escolher o que queremos.
Que a verdade me sorria e eu aceite a cortesia, mesmo que todos os seus dentes estejam inteiramente cariados.