quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Dossiê Outubro.

(Dedico a Thaís Giovanetti e Renata Quintieri, que antecederam a mim assumindo liderança no campo de guerra).

Uma breve lembrança de meu antigo e solitário quarto, naquele bairro tão afastado daquela cidade absurdamente morta. A sensação maravilhosamente vazia que ele me trazia.
Ausência de sabor no desenxabido.
Em minha descortês posição adolescente, sofri tanto os vendavais da inversão. Manifestava-se a dor que eu logo ironizava amenizando-a, até sem querer, para alcançar um contraste que por fim não alcancei. Ouvir ruídos noturnos fez sentir-me vivo. Atento. Não mais vagava pela rotina “inabstrata” dos últimos meses. Contudo, nenhum sentimento. Meu corpo agia só. Houve quando entre a dor e o nada escolhi o nada, desta vez o nada me escolhera. Onde desaparecera a alma onde o sangue estranhamente outrora pulsou? (...) Toda falta respeitosa sequer tocava-me.
Não sabia por quê cuidar-me nem como executá-lo. Usando a razão, julgava propício muito desejar. Comparecia ali a confirmação de que nada mesmo era carnal nem absolutamente sentimental. Tudo um prático raciocínio sem perder seu mecanismo. Metas programadas por chips. Sem gosto.
Procurava pelo célebre torpor e não havia estímulos a repelir. Meu corpo não mais sentia a geada espiritual que me movia, o gosto pela dor se fora. A sensação da neblina umedecendo meus trajes colegiais de primeiro ano, o meu eterno outono, nunca voltaria. Não era mais o herói. A dor que sentia em meu peito toda noite, que pesava sobre minha ossatura e me concentrara em minha história que aos poucos me abandonava, também deixou-me. Não havia a culpa nem o querer mudar de situação. Sentir intensificara-se tanto sem resultar que decidiu migrar de mim.
Nada de amor por esses dias. Não passava de um projeto em uma fábrica mundo. Meu coração sequer tentava passar-me algo. Tudo calculado. Tantos pensamentos me enlouqueceriam se pudesse sentir minha sanidade. Minha postura romântica havia devorado-me. Mas onde estariam os efeitos?
Dentro de mim havia um vazio incapaz de ecoar.
É como se eu desenvolvesse uma psicopatia sem ambições maldosas. Meu comportamento fazia com que me desentendesse com os mais amados, nada mais odioso.
Pesar. Codificar humanos em positivos e negativos.
Não encontrava o sono. Comer fez-se anti-higiênico. Inocentes detalhes “desprazerizaram-se.” A forte e não dependente de tabus religiosos crença num Deus supremo, o amor fraternal que permitia envolver-me, foi-se parecendo de vez. Passava horas corroendo-me e não capacitava-me prosear com alguém o que pensara.
Eu estava doente. Sem vaidades harmoniosas. Psicologicamente desfeito em um farelo que empoeirava os azulejos brancos do chão de meu quarto num cinza que tonalizava ainda mais minhas engrenagens mortas.
“Desesperançoso” e triste.
Hora de reagir.
Degustar o medo me levará a inovação.
Edificar uma nova vida. A antiga perdeu sua perspectiva junto a todos os sonhos, sons, formas e pessoas que amei. Algumas continuariam em mim de certa maneira e nos veríamos de tempos em tempos, quem sabe?
A idéia é fazer. Buscar valerá se for por escolha, não por alimentar mentiras capitalísticas de indivíduos fracos e vergonhosamente fracassados. O intento é prosperar em virtudes. Devo deixar os que são de vero opacos* (*Acolho expressão de exemplares damas).
Juntar-me aos bravos.
Recolhi-me só, iniciando procura pela cor que uma vez existiu. Deparei comigo, me ouvi e aconselhei-me com transparência. Refiz-me.
Novo, me preparo. Retomo a luta. Não viver tornou-se perante a mim um imperdoável ato criminoso, dentre os mais indignos.
Se a sintonia do gosto pela arte trouxe-me até aqui, creio que sou para ser. Deus, Deus! Como é belo o fazer-se belo por si próprio.

(Confesso um neologismo barato, falta de parágrafos e uma febre de ignorância na reforma ortográfica)

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