Delicadeza tua:
escorre-me dos dedos, a arraigar a terra...
Procurando a luz,
vejo raízes ganhando
vida para além do céu.
Mantenho-me abaixo da
terra:
semente e quietude.
Os transeuntes se
perderão à minha vista
[que se apaga],
rogo-lhe que se
lembre
dos segredos que
cultivei em tua pele...
A hidratação das
folhas se conteve como meu amor pelo mundo.
Não estou gelado,
contudo emudeci.
Nada sei agora e
precisaria esperar até a madrugada acabar para sabê-lo
Só [mente] fora do
esconderijo,
verdades tuas
enraízam-me.
Cicatrizes de
esperança:
tento cantá-las,
fogem -
senão pelo fato
de que as amo tanto
que matá-las-ia
para que não fugissem.
Minhas últimas
pétalas perderam-se no [não] eterno de meus outros olhos;
teus.
(João Gabriel Bruscato Mistura)
PERDOE-ME, FOLHA SECA.
(Por Stefani Costa)
Humildemente
Peço licença para contemplar a Folha Seca
[tão seca tão esmagada]
O barulho do vento faz balançar a poesia de menina
[ela corre, o cabelo voa]
No outono de 1977 – uma linda rosa se foi:
[ninguém pisou nas pétalas enraivecidas]
Perdoe-me, Folha Seca
Por tamanho descuido com tua fibra inquebrável
No andar calmo do homem generoso
A capa de chuva protege inúmeras lágrimas
[elas se movem, não se enxugam e se misturam com a água]
As mãos negras encobrem o rosto por onde passa a estupefação
[o peito vibra e debruça tudo em formato de eternidade para o Universo]
Uma gota exultante mais uma vez recai sob a Folha Seca
[a rosa nos observa do céu – serena]
Texto inspirado no ensaio
fotográfico de Silvia Ferrante — intitulado por mim e por João Gabriel Bruscato
Mistura: “Perdoe-me, Folha Seca”.
Inspiração necessária após a
leitura do romance de Rosinha e Bilú; frutos de um amor disputado entre os
dogmas da Igreja, da aristocracia rural sanjoanense, e dos grandes suspiros de
elevação ao mais sublime sentimento de todos.
(Rosinha morreu em fevereiro do
ano de 1977. Mas por causa do título e do “tema” das fotos - eu modifiquei a
estação do ano para o Outono - para assim prevalecer o intuito da folha seca.
Esta é a única parte em que não fui fiel à história original do livro “A
Primeira Dama”, de Silvia Ferrante).
("Perdoe-me, Folha Seca" é um trabalho com um poema de João Gabriel Bruscato Mistura e um de Stefani Costa (http://asmaosdojoalheiro.wordpress.com) em agradecimento à Silvia Ferrante, que nos convidou a registrar a vida em fotografias numa velha estação).
Curti demais a sua folha seca, João Gabriel!! Poucas palavras, dizendo muito. Assim que eu curto poesia! (:
ResponderExcluirObrigado por gostar, Marcia, e obrigado principalmente: por ler. Poucas vezes tive oportunidade de me conectar a alguém pela primeira vez através de literatura, nós nos reconhecemos.
ResponderExcluirPoucas vezes tive essa experiência tb, enfim... Vou sempre passar por aqui pra ver o que vc anda aprontando com as palavras! rs Te +!
ResponderExcluirLindo...
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