Certa vez, quando ainda era jovem
Endividei-me, deslumbrado, com equipamentos
que cumpririam meu sonho de juventude
Caixas de som, jaquetas, microfones e um violão
Endividei-me, deslumbrado, com equipamentos
que cumpririam meu sonho de juventude
Caixas de som, jaquetas, microfones e um violão
Meus sonhos se foram
com a necessidade da vida de se seguir
E eu que pagava transporte para trabalhar
Fixei-me na ideia de não mais gastar dinheiro
em casos de inclinações
com a necessidade da vida de se seguir
E eu que pagava transporte para trabalhar
Fixei-me na ideia de não mais gastar dinheiro
em casos de inclinações
Em um fim de tarde, voltando do trabalho
deparei-me com uma senhora vendendo mel
No mesmo instante fechei meu mundo para o dela
Afim de que ela não levasse aquilo que era meu
Percebendo, ela se dirigiu a alguém que estava ao meu lado
Nunca a mim
deparei-me com uma senhora vendendo mel
No mesmo instante fechei meu mundo para o dela
Afim de que ela não levasse aquilo que era meu
Percebendo, ela se dirigiu a alguém que estava ao meu lado
Nunca a mim
E lhe pediu vinte reais por uma garrafa de mel da melhor qualidade
Sem sucesso, baixou a oferta para quinze
e depois, com olhos de quem procura em algo sem sabor
uma gota de esperança para manter-se lutando
(quem sabe se não por filhos pequenos)
implorou suavemente: ‘nem dez reais você não tem para me ajudar?’
Sem sucesso, baixou a oferta para quinze
e depois, com olhos de quem procura em algo sem sabor
uma gota de esperança para manter-se lutando
(quem sabe se não por filhos pequenos)
implorou suavemente: ‘nem dez reais você não tem para me ajudar?’
Ouviu que não e seguiu em frente, sem nem falar comigo
que recusei sua proposta antes mesmo que a fizesse.
que recusei sua proposta antes mesmo que a fizesse.
Senti dentro de mim que os sapatos daquela senhora
eram surrados como nada em mim foi, e suas pernas,
de tanto caminhar a procura de algo que o mundo esqueceu-se de ter,
estavam mais cansadas do que meu coração jamais estaria.
eram surrados como nada em mim foi, e suas pernas,
de tanto caminhar a procura de algo que o mundo esqueceu-se de ter,
estavam mais cansadas do que meu coração jamais estaria.
Nunca mais me curei da porção dela que ficou em mim.
João, simplesmente magnífico! Um texto que nos permite olhar dentro da história, ter vontade de ir comprar a garrafa de mel, que nos faz tristes, por saber que somos a pessoa fechada para o mundo, para os que nutrem esperanças de que poderíamos ajudar. Por ignorarmos que essa ajuda não é para quem pede e sim para nós, que gritamos socorro sem saber.
ResponderExcluirEsse texto é motivante, nos permite reflexões, nos permite dar mais uma chance para a vida. Meus parabéns, por você ser você e muito obrigado por isso também!
Meu caríssimo. Obrigado pela valiosa visita e por ser poesia para o mundo.
ExcluirÉ sempre bom ter suas palavras e sua existência.
ResponderExcluirObrigado por escrever também e por estar aqui...